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Q+4=FM

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Parece que os nossos governantes prosseguem a infindável lista de aventuras e desventuras, pautando a atribulada vida do cidadão comum. Desde o esbanjamento dos subsídios da CEE recepcionados pelo Prof. Silva, que aniquilou a agricultura e as pescas, aos erros de cálculo de Guterres em matéria de PIB e ao aumento de job for the boys, às históricas frases “há vida para além do défice” (Sampaio) e “Portugal está de tanga” (Barroso) à utópica governação de Sócrates que acreditava em contos de fadas e ao actual estado devastado do país, fruto da impotente política de régua e esquadro da Troika, aplicada sem dó nem piedade por Gaspar (nunca será considerado um mago) e pelo barítono desafinado de Coelho, pois a par do desaparecimento do investimento público, tem reduzido a procura interna a mínimos reflectidos no encerramento de milhares de empresas, a cerca de 19% de desemprego (só no primeiro trimestre do ano arderam 100 000 postos de trabalho), a considerável perda do poder de compra e uma dívida galopante que, com o contínuo uso de folhas de Excel de má qualidade, tem agravado a recessão, colocando a pobreza e a miséria à mão de semear, provocando medo do futuro nos mais necessitados e nos jovens.

 

Ora, ante o panorama de Portugal esfrangalhado, por incrível que possa parecer, extraímos boa lição de gestão através do mundo do negócio do futebol (acusado de ser o ópio do povo) na época de 2012/2013, onde equipas de orçamentos reduzidos – Paços de Ferreira, Estoril Praia e Vitória de Guimarães – treinados por jovens que não sendo cabeças de cartaz, à custa de boa administração e selectividade de recrutamento de jogadores para os plantéis (considerações outrora seguidas por FC Porto, Benfica e Sporting), souberam dar a volta por cima, surpreendendo pela qualidade de jogo praticado e pela posição alcançada no final da temporada, garantindo o passaporte para as competições europeias. O exemplo dessas equipas nos dias que correm, faz pensar que todos nós, quer sejam amantes de audiologia ou tenham outro hobby, na nossa vida pessoal e enquanto consumidores, temos que equacionar os recursos disponíveis, planeando, orçamentando e executando, tendo em conta a relação qualidade/preço para não comprometermos as nossas poupanças. Nesta ambiência que nos reensina a viver, entra a equação do título, cujo resultado obtido é uma luminosa solução das folhas de cálculo do exonerado Ministro das Finanças.

 

 

Apreciado pelos decoradores de interiores como chiques elementos decorativos, os aparelhos concebidos por Peter Walker até podem não funcionar, mas posicionados estrategicamente na sala de estar e de jantar, enaltecem o ambiente da divisão mais vivida numa habitação situada nos bairros históricos de Lisboa., sem que o proprietário saiba do real valor funcional da peça convertida em bibelot. O Quad FM3 dita essa tendência decorativa. No entanto, o look mais moderno do FM4, tais como as sete teclas amarelas para memorização de estações emissoras, rotuladas de BBC1, BBC2, BBC3, BBC4, ILK1, ILK2 e BBCLR, colocam esta peça no centro das atenções ornamentais.

 

Produzido durante 13 anos, os primeiros FM4 eram equipados com fichas DIN de 5 pinos para saída do sinal, tomada fêmea de entrada de antena FM de 75 ohm e tomada IEC para cabo de alimentação de energia. O painel frontal, nada exuberante por não disponibilizar uma catefra de teclas correspondentes a funções e possibilidades capazes de por o sinal captado a fazer o pino ou outras contorções, somente oferece aquilo que se vai usar, tirando partido do que realmente favorece, como: o habitual botão de ligar/desligar, teclas memorizadoras (que contam com o auxílio de uma bateria interna, com vida útil estimada em 10 anos para conservar em memória as estações anexadas), o cursor rotativo de sintonia manual e descentrado para a direita, o mostrador digital, ditando a frequência da estação e o simples indicador do sinal captado até 60 dBF. Não obstante a apresentação por meio de dígitos verdes, este sintonizador é analógico. Na sua utilização, ignoro a possibilidade de pré-sintonias, fazendo viajar o cursor pela banda de Frequência Modular para ajustar ao comprimento da onda transmitida pelas estações que ouço. Porém, durante a sintonia, recomendo que reduza consideravelmente o volume do pré-amplificador ou do amplificador integrado para não ser incomodado pela poluição sonora existente entre os postos.

 

Dedico as minhas audições radiofónicas à Smooth FM (103.0 MHz), Radar (97.8 MHz) e Antena 2 (94.4 MHz). No que à RDP concerne, em contraposição ao costume de maldizer sobre o que é nacional por se dominar mal os assuntos, manda o bom senso realçar a excelente qualidade de radiodifusão, presente não só na tendência da música clássica, como na programação de autor que centra a minha atenção na criação de ambientes distintos que convidam ao relaxamento («Jazz a 2» e «O canto do blues»), à descoberta de outras linguagens musicais («Raízes» e «Geografia dos sons») e a reflexão («Argonauta» e «Fuga de arte»).

 

Mais do que escolher um sintonizador, é importante conhecer o aparelho adquirido para que nos aspectos menos-mal não seja tentado a enegrecê-lo e a relegá-lo para o esquecimento. O FM4 é precisamente um desses aparelhos; o seu desempenho foi penalizadoramente afectado quando liguei uma vulgar antena de interior, demonstrando insensibilidade e dificuldade em saturar o indicador de intensidade de sinal, notando-se sujidade no som.  Assim, confie-o aos cuidados de uma antena exterior que permita boa captura do sinal (isento de ruído e de interferências) para ganhar a sua confiança, pois tal critério pode influenciar o nosso gosto e estado de espírito para ouvir rádio.

 

Durante o desafio de analisá-lo, tive a oportunidade de notar que este rádio não tem tendência para chamar as atenções sobre si próprio, nem subestima quaisquer estilos musicais. E à medida que passava mais tempo em audição radiofónica, relegando para segundo plano a escuta em vinilo, ia ficando cativado pela esmerada musicalidade e pela liberdade que proporciona na amplidão, profundidade e na forma consistente de recorte e de focagem holográfica dos sons que vão para além do espaço demarcado pelas colunas, através dos registos que Jorge Carnaxide dá a conhecer em «Argonauta» (alguns minutos após as 23h00, Sábado e Domingo), que vão desde Brian Eno, Dead Can Dance, Jean-Michel Jarre, Kraftwerk, Rodrigo Leão e Vangelis. Essa facilidade de focar, tornando notória a clareza com que identificamos a localização dos locutores, registou o posicionamento mais à direita de Maria Alexandra Corvela, enquanto que a voz de Luís Caetano, em «Jazz a 2», (Segunda a Sexta, 20h00), surge ligeiramente no lado oposto, com predominância ao centro. Recordo que nesse programa, antes da actuação de Patricia Barber na cidade de Torres Novas, na passagem de alguns temas do álbum «Smash» (Concord Jazz, 0888072336766), dada a naturalidade do timbre dos instrumentos, do sentido de contrastes rítmicos e da parecença com o suporte físico do registo, não senti necessidade de recorrer à audição do CD.

 

No concerto emitido em directo do Royal Albert Hall, às 20h00, do dia 17 de Julho de 2013, a reprodução de graves foi apoteótica, pois além de densos, foram delimitados convenientemente com boa articulação, não dando lugar a indesejada ribombância.

 

Por tudo isto, mais do que eleger um tuner com pedigree (Magnum Dynalab FT-101A, Musical Fidelity T1, Naim NAT01 ao 03, Revox B760 ou Sansui TU-9900), é essencial seleccionar um que cumpra bem a sua função. Para conseguir, invista num que transita das estações passadas no mercado de usados. O Quad FM4, não sendo a 8ª, 9ª, 10ª ou outra posição mais abaixo referente às 7 Maravilhas do Mundo, é um sintonizador que eu gostaria de ter conhecido, já há vários anos. Se isso tivesse sucedido, certamente não teria tido três sintonizadores… Mas, atendendo que em 1994 – penúltimo ano em produção – custava os saudosos 129 688$00, a sua aquisição no tempo presente é muito menos dispendiosa (entre 20 a 23% do valor mencionado).

 

Agora, impedido de ir à praia por estar a recuperar de uma intervenção cirúrgica, vou mergulhar nas ondas hertzianas. Bons banhos!

 

 

(Ghost4u)


 

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